Manifestantes invadem C0P30
Belém, Pará – 12 de novembro de 2025 – A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que ocorre de 10 a 21 de novembro em Belém, no coração da Amazônia brasileira, viveu um momento de tensão na noite de terça-feira (11). Um grupo de manifestantes, majoritariamente indígenas e ativistas de movimentos sociais, invadiu a área restrita da conferência, conhecida como Zona Azul, no Parque da Cidade, gerando confrontos com forças de segurança e deixando pelo menos dois a três feridos.
O incidente, que ganhou destaque na imprensa internacional, expôs contradições na segurança do evento e reacendeu debates sobre a inclusão de povos originários nas negociações climáticas globais. Vestidos com trajes tradicionais, os manifestantes gritavam slogans como “Nossos bosques não estão à venda!” e “Taxem os milionários!”, criticando a exploração de petróleo na Amazônia e exigindo ações mais enérgicas contra o desmatamento e a mineração ilegal.
O Contexto da COP 30: Um Palco Global na Amazônia
A COP 30 marca a primeira vez que a conferência climática da ONU é realizada na América do Sul, com foco em temas cruciais como financiamento climático, perda e danos causados pelas mudanças climáticas, e novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para redução de emissões até 2035. Organizada pelo governo brasileiro sob a presidência do embaixador André Corrêa do Lago, o evento reúne líderes mundiais, negociadores de mais de 190 países, cientistas, ONGs e sociedade civil no Hangar Convention Center e no Parque da Cidade.
A abertura, no dia 10 de novembro, foi marcada por uma demonstração de solidariedade global, com discursos enfatizando a urgência de ações concretas para limitar o aquecimento global a 1,5°C. 30 No dia 11, painéis discutiram a “Beat the Heat Implementation Drive”, uma iniciativa liderada pela presidência da COP 30 e pela Coalizão Cool da ONU para mobilizar recursos contra ondas de calor. 28 Paralelamente, o World Climate Summit promoveu colaborações setoriais, enquanto expectativas incluem avanços em acesso direto a finanças climáticas para governos locais e subnacionais. 31 33
No entanto, o evento não está imune a críticas. Organizações indígenas e ambientais apontam que as negociações ainda priorizam interesses econômicos de grandes potências, ignorando as vozes da floresta.
A Invasão: Quem São os Manifestantes e o Que Exigem?
O grupo invasor era composto por ativistas indígenas, representantes de movimentos sociais e militantes ligados ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), que forçaram a entrada na área de credenciamento e pavilhões exclusivos para delegados. Imagens e vídeos circulantes nas redes sociais mostram os manifestantes quebrando barreiras, enfrentando guardas de segurança e erguendo cartazes contra a “exploração colonial” da Amazônia.
Entre os líderes destacados, figuras indígenas como representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) foram citadas em relatos, embora não haja confirmação oficial de prisões até o momento. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, comentou o episódio em entrevista, defendendo a participação de povos originários e criticando a repressão, ao afirmar que “a voz da Amazônia deve ecoar na COP”.
O protesto resultou em ferimentos leves em seguranças e manifestantes, com a polícia fechando o acesso principal ao local para investigações. A ONU e o governo brasileiro trocaram acusações sobre falhas de segurança, com a presidência da COP 30 prometendo uma revisão nos protocolos. Nesta quarta-feira (12), novos protestos matinais foram registrados na periferia do evento, sinalizando que a tensão persiste.
Impactos e o Que Vem Pela Frente
O episódio constrange o governo brasileiro, anfitrião do evento, e destaca a necessidade de maior inclusão de comunidades locais nas decisões. Analistas apontam que incidentes como esse podem pressionar por avanços em pautas indígenas, como a demarcação de terras e o fim do garimpo ilegal, temas centrais para a credibilidade da COP na região amazônica.
Uma coletiva de imprensa da presidência da COP 30 está marcada para as 13h desta quarta, onde atualizações sobre o incidente e o andamento das negociações devem ser divulgadas. Enquanto isso, delegados prosseguem com rodadas de negociação, com foco em um fundo global para perdas e danos estimado em bilhões de dólares.
A COP 30 continua atraindo olhares do mundo, mas eventos como a invasão lembram que a luta climática vai além de salas de conferência: ela pulsa nas ruas e florestas da Amazônia.
Principais Demandas dos Manifestantes
1. Fim da Exploração de Petróleo e Mineração na Amazônia:
Os manifestantes denunciam a perfuração na Margem Equatorial, na foz do Rio Amazonas, autorizada pelo governo Lula, como uma “traição” à agenda climática. “Governo Lula, que papelão, destrói o clima com essa perfuração”, ecoaram os gritos durante a invasão. Líderes indígenas argumentam que isso acelera o desmatamento e viola territórios ancestrais, exigindo a revogação imediata de licenças para óleo e garimpo ilegal. A APIB e aliados pedem a inclusão de vetos territoriais nas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil até 2035.
2. Taxação de Grandes Fortunas e Financiamento Climático Justo:
Um dos slogans mais repetidos – “Taxem os milionários!” – reflete a demanda por um imposto global sobre super-ricos e corporações poluidoras para custear perdas e danos. Indígenas enfatizam que os países ricos, responsáveis pela crise climática, devem arcar com bilhões em fundos para adaptação, priorizando comunidades vulneráveis. “Os ricos devem pagar a conta da crise climática”, afirmam, propondo que esses recursos financiem saúde pública, demarcação de terras e soberania alimentar na Amazônia.
3. Inclusão Efetiva e Proteção à Saúde e à Vida:
A manifestação surgiu após uma marcha pela saúde, destacando impactos climáticos como ondas de calor e escassez que afetam indígenas com violência e abandono estatal. Exigem participação paritária nas negociações da COP, com vetos a espaços como a “Agrizone” (vista como “lavagem de imagem” do agronegócio). Além disso, pedem políticas de saúde integradas ao clima, como atendimento a vítimas de desastres ambientais, e solidariedade internacional, simbolizada por bandeiras “Palestina Livre” em defesa de povos oprimidos.
4. Demarcação de Terras e Fim da Violência Estrutural:
Com mais de 300 territórios em disputa, indígenas cobram agilidade na demarcação e proteção contra invasores. O protesto reforça a necessidade de um “legado amazônico” na COP 30, com indicadores para monitorar avanços em direitos indígenas, combatendo a “exploração colonial” por corporações.
Contexto e Reações: Pressão para Mudança
A invasão, embora não organizada pela marcha oficial, foi um ato independente para “visibilidade e escuta”, segundo fontes indígenas. A ONU e o governo brasileiro investigam o episódio via Polícia Federal, com reforço na segurança, mas a presidência da COP promete revisar protocolos para maior diálogo. Internacionalmente, veículos como o *Telegraph* e *Reuters* destacaram o confronto, com relatos de seguranças atingidos por objetos, ampliando o debate sobre repressão a ativistas.
Analistas veem o incidente como um catalisador: ele pressiona por avanços em pautas indígenas, essenciais para a credibilidade da COP na região. Delegações de países vulneráveis, como Fiji, ecoam demandas semelhantes por financiamento à adaptação. Nesta quarta (12), uma barqueata nos rios de Belém sinaliza que as vozes indígenas não se calarão, transformando a conferência em um palco de resistência real.
A COP 30 prossegue até 21 de novembro, com foco em NDCs e fundos climáticos. Para indígenas, o sucesso não está em acordos diplomáticos, mas em ações que devolvam a floresta a seus guardiões.
Por Lucas Morech – Com base em reportagens e atualizações em tempo real.






